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Seu Ismael: geladinhos, o amor e um cordel de histórias

J. Britto 1 ano atrás

Dia desses, fomos pegos de surpresa pela postagem de Seu Ismael no Facebook, anunciando o fim do seu comércio de geladinho. Nascido em Campina Grande-PB, em 06 de maio de 1937, o quase jacobinense e avô do meu brother soteropolitano Iago Itã merece todos os imagináveis registros históricos.

E aqui não se trata apenas do encerramento da venda do geladinho, mas saber de onde veio, do porquê veio e como se radicou aqui, esse que se tornou um dos personagens icônicos e faz parte da memória gustativa da cidade. Em entrevista à Rádio Jacobina FM 99.1, em 3 de fevereiro de 2023 (disponível no YouTube), ele contou um pouco da sua história, pedaços dela em cordel, agora compartilhada com vocês.

Há 63 anos, morando na cidade de Jacobina, seu Ismael Guedes Pereira teve Petrolina como a sua primeira parada. Lá noivou e decidiu ganhar o São Francisco com mais dois amigos e uma maleta de coisas, já que tinha aprendido a mascatear. A intenção inicial era de ir a Brasília, já que o comércio da construção estava bombando na capital federal. Acabou parando, no entanto, em Xique-Xique. Comércio fraco em Xique-Xique, foi aproveitar a safra de feijão em Irecê, onde conseguiu esgotar toda a sua mercadoria.

Descobriu ao fim da safra de Irecê que existia um lugar chamado Junco, esse mesmo aqui que a gente conhece. Sem a companhia dos amigos, que retornaram a Petrolina em busca de novas mercadorias, Ismael veio ao Junco vender bugigangas na feira, quando foi paquerado por uma moça que já o observava há dias. Era a dona Eunice, que hoje é a sua esposa. A noiva que ficou em Petrolina recebeu uma carta comunicando o término do relacionamento. Tomara que tenha sido em cordel, pelo menos. Fico devendo essa informação. O cordelista ainda morou em Carnaíba, quando investiu em garimpo de pedras preciosas, deixando um buraco de mais de quarenta palmos, “querendo enricar ligeiro”.

Mas vamos voltar pra Jacobina, a sua terra. Já sem dinheiro, vendeu geladinhos por cinco anos num enorme trecho. Imagine vender geladinho entre Umburanas e Gavião? No sol quente, tipo o que tá hoje em que eu escrevo esse texto, não devia ser fácil. Aqui na terra do ouro ele não mexeu com garimpo, trabalhou em seguida com Carlito Daltro, prefeito da época, desempenhando funções na garagem municipal e conhecido como um dos melhores “chefes”. Ele lembra com saudade, também, de quando foi o porteiro do cinema Payayá e acompanhou os shows de Jerry Adriani, José Augusto, Agnaldo Timotéo, The Fevers, entre outros.

Sempre muito contente por ter sido bem recebido na cidade, comemora o fato de ser, além de respeitado, uma pessoa pela qual os outros possuem carinho. É assim que ele fala do professor Lourival, por exemplo, que lhe concedeu a cantina da sua escola para a venda de lanches e dos seus famosos geladinhos.

Mas é fato, não tem volta! A gente não tem mais os geladinhos de seu Ismael. O motivo é o mesmo que o fez ficar em Jacobina: a moça da feira do Junco precisa de seus cuidados. Demorou, mas a gente descobriu o que fazia do geladinho desse paraíba-jacobina o mais saboroso da cidade: era o amor, o amor de dona Eunice e seu Ismael. Agora tá explicado!

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