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Quem é ‘Madame Bovary’ na política jacobinense?

J. Britto 6 meses atrás

Devo revelar que, para além da leitura de textos políticos, muitos dos bons romances que li ficaram guardados na memória. É o caso de “Madame Bovary”, escrito pelo francês Gustave Flaubert, em meados do século XIX, e considerado pela crítica como uma das maiores obras da literatura francesa. O livro toca em polêmicas como o adultério e o suicídio, e foi considerado uma afronta aos padrões morais da sociedade da época.

Flaubert conta a história de Emma que, depois de se casar com o médico Charles Bovary, fica entediada com a vida doméstica e sai em busca de aventura e adrenalina. Na ida ao interior, ela foi seduzida por dois rapazes. Mas, Madame Bovary terminou sendo abandonada por ambos os homens pelos quais se apaixonou secretamente.

Deprimida, ela decidiu tomar veneno. Charles só descobriu a vida dupla de Emma muito depois que a mulher se suicidou. Viúvo, o médico não foi avante, herdou uma série de dívidas, teve que abrir mão de todo o seu patrimônio e acabou morrendo de desgosto.

Pois bem. No cenário político de Jacobina, uma trama maquiavélica se desenrola na mesma linha dos romances clássicos, tendo a presidente do PT como a personagem central nesse enredo, transitando de salto alto e convivendo entre farpas e beijos com os companheiros de partido.

Assim como a personagem central de Flaubert, que buscou paixões proibidas para escapar da monotonia, a pré-candidata está tentada a “pular a cerca”, atraída pela ideia de ver a sua imagem exibida na urna eletrônica como uma das opções ao cargo majoritário nas próximas eleições municipais, nem que para isso tenha que deixar a federação partidária que dá sustentação tanto ao governador quanto ao atual prefeito, migrando para outra legenda.

Deslumbrada com o resultado obtido nas duas últimas eleições em que participou e encantada com o estilo ‘beijoqueiro’ do governador, a pré-candidata avalia que tem bagagem suficiente para ser a futura prefeita. Qualidades não lhe faltam, concordo, mas experiência política e administrativa, aí já são outros quinhentos.

Na política, como na literatura, muitas vezes beijos não significam lealdade. A aliança aparente pode esconder agendas totalmente distintas. Ao fincar o pé na pré-candidatura, a ‘madame simpatia’ desfaz a coesão necessária para manter a unidade do campo progressista e de esquerda, e cai na teia da divisão que só interessa ao grupo direitista que foi derrotado eleitoralmente nas três esferas de governo: municipal, estadual e federal.

A contradição existente entre o discurso e a prática da postulante ao cargo de prefeita é quase um abismo. Estaria aí a explicação para suas relações “extrapartidárias” até com adversários históricos do PT no município? Que sede de poder é essa, a ponto de juntar alhos com bugalhos?

O PT, nesse contexto, assume o papel do marido traído e desconsiderado. E os partidos comandados por ex-prefeitos assumem o papel dos amantes clandestinos. Enquanto a petista busca apoio fora das fileiras governistas, a trama se desenrola e o PT [assim como Charles Bovary] só vai descobrir tardiamente a traição política. À medida que velhos caciques tentam retornar ao protagonismo da política local, a pergunta que se faz é: Quem é a Madame Bovary na política jacobinense?

– Madame Bovary sou eu!

Quem dará a resposta, só o tempo dirá.

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