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Por que Neto precisa concorrer ao governo no ano que vem, por Raul Monteiro

TRagora 2 dias atrás

Os anos eleitorais de 2018 e 2022 não foram simples para ACM Neto (União Brasil) e cobram até hoje seu preço ao ex-prefeito de Salvador. No primeiro, ele abortou uma candidatura ao governo por quais opositores do PT clamavam, chocando sua base e dificultando a vida de muitos que contavam com ele na cabeça de chapa para vencer as eleições. Empoderado por uma gestão considerada excelente na Prefeitura de Salvador, ele virou uma aposta natural para enfrentar o petismo no Estado e por muito pouco não cedeu à enorme pressão que se formou para que abandonasse o segundo mandato de prefeito no meio para concorrer.

Em 2022, Neto lançou o desafio da candidatura sob o peso do desgaste da decisão de 2018, pela qual recebeu muitas críticas, e pela ausência de um candidato a presidente que o ajudou. Pudera: estava em jogo, contra Lula, a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), um que, além de extremista e intelectualmente desqualificado, acalentava presidente um projeto mambembe de dar um golpe contra a democracia, a quem, apoiado por princípio – o que deveria ser motivo exclusivamente de elogio -, Neto evitou associar-se explicitamente, a despeito da torcida contra a maioria dos aliados.

Juntos, os dois episódios impõem um novo desafio ao ex-prefeito agora. Depois de 2018 e da derrota de 2022, Neto parece não ter alternativa senão sair candidato em 2026, sem avaliar antecipadamente o risco de ganhar ou perder. Se não disputar, manter sua liderança no campo da oposição independentemente do resultado, corre o grande risco de ver a posição que ainda ostenta o principal quadro oposicionista do Estado ser simplesmente abalado por quem o substituir na corrida eleitoral ou por outro nome de seu grupo político. Hoje, o que se diz é que, na remota possibilidade de não concorrer, o grupo lançaria o nome do ex-ministro João Roma (PL).

Apesar das evidentes deficiências de Roma, que está longe de conseguir liderar um grupo de quatro pessoas, que dirá um partido ou um grupo político inteiro e ainda mais um Estado, ninguém pode descartar que o hoje aliado que virou adversário depois de ter sido aliado pode acabar se beneficiando ao mesmo tempo da ausência de Neto da disputa e do grau de exposição que a campanha lhe dará, criando obstáculos para planos eleitorais futuros do ex-prefeito. Na prática, Neto deixaria de figurar como única liderança do grupo. Um eventual recuo de Neto também pode acabar representando um impacto político negativo sobre ele entre os principais aliados.

Poderemos, por exemplo, atiçar aqueles que defendem o nome do prefeito Bruno Reis (União Brasil) para o governo em 2030, dificultando que o atual líder consiga importar seu nome para o pleito vindouro, quando Lula não puder mais ser candidato à Presidência, ou que deva abrir espaço para mudanças no cenário nacional que repercutirá na Bahia, neste caso facilitando a vida da oposição. De todo modo, há consenso nos meios políticos de que caberá a Neto um único caminho no caso de ele concorrer e perder as eleições do próximo ano: para não desaparecer da política, o líder oposicionista seria forçado a disputar de novo a Prefeitura de Salvador em 2028.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.